Discalculia e Aprendizagem da Matemática
10 de setembro de 2018
Discalculia e Aprendizagem da Matemática
10 de setembro de 2018
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Aprendizagem Escolar sob o Prisma da Neurociência

Aprender é um processo que depende de conexões neuronais. Conhecer essas conexões é básico para estruturar os procedimentos didáticos e metodológicos que viabilizem o desenvolvimento dos processos de aprendizagem.

A falta de conhecimento da Neurociência levou a um equívoco, a uma mudança de foco. A metodologia passou a privilegiar processos de ensino em detrimento aos processos de aprendizagem. O conhecimento da Neurologia da aprendizagem busca a correção desse caminho. A neurologia da aprendizagem ressalta a importância de conhecer a arquitetura do sistema nervoso central e do desenvolvimento infantil, para então lançar mão de didáticas e metodologias mais assertivas e apropriadas, desenvolvendo processos que proporcionem as aprendizagens.

A Neurociência estuda o comportamento do sistema nervoso central e periférico, da atividade central e como as células cerebrais atuam para produzir a cognições, as emoções e as condutas. Investiga acerca das áreas acionadas no processo de aprendizagem e as conexões entre essas áreas. Aprendizagem é um processo genético, biológico e ambiental e temos a aprendizagem escolar como uma das aprendizagens mais difíceis para o ser humano. Portanto torna-se fundamental aliar os conhecimentos da neurociência aos pedagógicos.

O processo de aprendizagem é constante ao longo da vida humana e implica em uma série de transformações comportamentais do sujeito e do entorno que o cerca, levando esse indivíduo a uma melhor adaptação e consequentemente a melhores vivências. É um processo que modifica condutas levando a novos atos.

O sujeito carrega para o ambiente escolar um grupo de competências e pré-requisitos, de atividades e valores sobre si, experiências diferenciadas adquiridas por exposições ambientais, que dão a ele um bojo sociocultural, que servirá de alicerce para o sucesso escolar.

A aprendizagem escolar torna-se um processo difícil porque requer um engajamento de circuitos neuronais que não nascem com o ser humano, são adquiridos culturalmente. Ao entrar na escola é preciso considerar que o sujeito está vivendo um processo de passagem onde a criança passa de uma aprendizagem interativa, onde aprende na interação com o meio, para uma aprendizagem escolar estruturada, mais complexa. Antes do ambiente escolar a criança lidava apenas com uma linguagem simples: a fala. Já no contexto escolar passa a lidar com uma linguagem convencional, a ter que compreender pela leitura, pela codificação final da letra e decodificação de contextos organizados em uma linguagem gráfica. O ambiente escolar lança mão um processo de aprendizagem estruturado, formal, sequencial, que exige autoengajamento, requer prontidão e motivação. O sujeito precisa ter comportamentos adequados ao processo, e ter determinadas competências construídas, deve ter funções executivas amadurecidas e boa manipulação da linguagem. As funções executivas mínimas que sevem ser observadas para o desenvolvimento das aprendizagens são: atenção seletiva, racional, planejamento, flexibilidade cognitiva. No desenvolvimento das aprendizagens devemos considerar a importância da linguagem em suas estruturas: fonológica, semântica, lexical e pragmática.

Esse conjunto de pré-requisitos quando presentes proporcionam ao estudante condições para suas conquistas. Mas se ausentes impossibilita ou dificulta a construção do conhecimento por parte do aluno, por isso a necessidade do professor investigar as razões do “ não aprender” e então utilizar estratégias que viabilizem a aprendizagem. Diante do fato de algum aluno não estar construindo as aprendizagens é fundamental uma investigação, para detectar, rapidamente, as causas, e assim, realizar as intervenções necessárias para ajudar ao aluno. E essa pesquisa deve levar em consideração os conhecimentos da Neurociência e de fatores ambientais.
Um contexto sociocultural pouco estimulado e metodologias de ensino inadequadas, também precisam ser considerados ao investigar as razões do fracasso escolar, pois trazem influências significativas.

A construção do conhecimento pelo ser humano recebe influência de fatores: neurológicos, executivos, linguagens, e metodológicos e ambientais. Podemos considerar as seguintes situações neurológicas que interferem no neurodesenvolvimento: hereditariedade, condição gestacional, neurodesenvolvimento, infecções cerebrais, traumas cranianos, epilepsia, síndromes genéticas, doenças metabólicas. Esses fatores levam a: transtornos no neurodesenvolvimento, transtornos psiquiátricos, transtornos de aprendizagem. E trazem impactos negativos para o processo de aprendizagem.

Aprendizagem escolar é um processo complexo exige a integridade das zonas cerebrais. A aprendizagem falha quando: há alterações em áreas específicas do cérebro; há fragilidades no desenvolvimento da noção de esquema corporal, lateralidade, noção temporal e espacial; há problemas no neurodesenvolvimento ou no caso de metodologias inadequadas e ambiente sócio-cultural que não estimula. Portanto é importante que o professor tenha clareza desses fatores ao investigar as razões do fracasso escolar de um aluno.
Investigar e diagnosticar as razões do fracasso escolar é fundamental para traçar um novo caminho para o estudante, ajudando-o a desenvolver suas aprendizagens, dando a ele a chance de se tornar um estudante que coleciona saberes e sucesso. Proporcionado à sociedade a presença de um cidadão capaz de construir conhecimentos interferindo positivamente em seu meio.